É
possível que uma pessoa com ideias de direita não se tenha apercebido.
Mas certamente essa pessoa terá reparado que concorda cada vez mais com quem faz comentário político. É que, se o Parlamento aparenta estar fragmentado, a comunicação social revela-se bastante
homogénia.
Apenas para complementar o que aqui foi dito sobre o oligopólio da direita no comentário político, há um outro aspecto que, de sobremaneira, valoriza esse mesmo comentário.
É que à medida que aumenta o número de comentadores políticos (como se vê no gráfico inserto num recente estudo do ISCTE sobre o comentário político), assiste-se a uma redução do número de jornalistas nas redacções. Ainda recentemente foi anunciado um despedimento colectivo no grupo Global Media e a venda de diversos órgãos de comunicação, e mais recentemente ainda o fecho do site Setenta e Quatro:
"Ousámos desafiar a 'crise do jornalismo' em plena pandemia e fundar um jornal de investigação assente num jornalismo diferente. O jornal termina esta quinta-feira por razões exclusivamente financeiras. A nossa permanente teimosia deparou-se com uma muralha, e há um momento em que o espírito de combate já não basta."
E dessa forma assiste-se a uma compressão do pluralismo político e mesmo do espaço noticioso. Mesmo um eleitor de direita compreende onde conduz essa trajectória de redução de produção própria de notícias e de aumento do espaço afunilado de comentário político.
Cinquenta anos não foi assim há tanto tempo.